Somente com eficiente limpeza de materiais há eficaz esterilização

Eficiência é a capacidade de realizar tarefas ou trabalhos de modo eficaz com o mínimo de desperdício e o máximo de produtividade. Eficácia são os resultados competentemente alcançados com qualidade e produtividade. Conclui-se que eficiência no fazer resulta em eficácia no que foi feito; que eficiência é método e eficácia é resultado.

Quando se trata de controle de infecção em ambientes de tratamento de saúde, pontualmente de preparo de materiais para esterilização, o protocolo tem que ser eficiente para que a esterilização seja eficaz com vistas à proteção dos profissionais e pacientes.

A RDC 15, de março de 2012, define pré-limpeza e limpeza. Pré-limpeza é a “remoção da sujidade visível presente nos produtos para saúde” (Seção III, XIV) Limpeza é a “remoção de sujidades orgânicas e inorgânicas, redução da carga microbiana* presente nos produtos para saúde, utilizando água, detergentes, produtos e acessórios de limpeza, por meio de ação mecânica (manual ou automatizada), atuando em superfícies internas (lúmen) e externas, de forma a tornar o produto seguro para manuseio e preparado para desinfecção ou esterilização”(Seção III, XIII).**

Complementarmente, a RDC 15 define o processamento de produto para saúde como o “conjunto de ações relacionadas à pré-limpeza, recepção, limpeza, secagem, avaliação da integridade e da funcionalidade, preparo, desinfecção ou esterilização, armazenamento e distribuição para as unidades consumidoras” (Seção III, XXI), denominado POP – Protocolo Operacional Padrão.

O POP é uma corrente de ações e cada ação é igualmente importante como as outras. Se uma for mal executada, a corrente de proteção se rompe. Lição dos mestres Dra. Isabel Yoko Ito e Dr. Sérgio Narciso Marques de Lima que não se pode esquecer: “A corrente nunca é mais forte que seu elo mais fraco”.

Objetivamente pode-se afirmar que até pode ocorrer processos de esterilização com produtos não-limpos adequadamente, mas é impossível tornarem-se estéreis e muito menos possível haver a manutenção de sua esterilidade, se constatada neles alguma presença de microrganismos viáveis. Se um produto estiver sujo, como manter sua esterilidade mesmo depois de passar pelo processo de esterilização? Impossível!

Uma eficiente limpeza compreende 1) a pré-limpeza manual e mecânica eliminando as sujidades mais evidentes, depois 2) a limpeza mais acurada mecânico-manual com dispositivos e detergentes adequados 3) a limpeza automática em dispositivo ultrassônico, através do processo de cavitação***,  abastecido com líquido enzimatizado e aquecido para atuar nos pontos onde a limpeza mecânico-manual não alcança 4) o enxágue com água purificada 5) a secagem principalmente em lumens e articulações realizado (a) com jato de ar comprimido medicinal isento de partículas de lubrificante e filtrado ou (b) através de equipamento**** desenvolvido para este fim e 6) a inspeção visual sob boa iluminação com lentes de aumento (8 x no mínimo - lupa ou similares ) até se chegar à fase da embalagem para seu acondicionamento nas bandejas da autoclave e processamento da esterilização.

A inspeção visual, com lente de aumento de 8 vezes ou mais, sob iluminação correta, é importante para identificar presença ou não de matéria orgânica ou inorgânica, pontos de oxidação (principalmente em articulações) e decidir pelo reprocessamento a fim de que apenas material rigorosamente limpo seja embalado para o devido fim.

Todas as fases do POP têm a sua importância e nenhuma pode ser negligenciada, porque a limpeza eficiente é um dos fundamentos das boas práticas para a obtenção da eficácia na esterilidade. Por isso reiteramos: onde não houver limpeza pode haver esterilização, mas não é possível haver esterilidade e, neste caso, os danos para pacientes e profissionais tornam-se inevitáveis.

Eficaz proteção a profissionais e pacientes é o resultado que se espera de um eficiente protocolo.
 

*Carga microbiana: "População de microrganismos viáveis em um produto e/ou sistema de barreira estéril", de acordo com a NBR ISO 17665-1, 3.3).
**Microrganismo viável: microrganismo vivo e cultivável nos meios de cultura e nas condições ambientais específicas.
***Cavitação em limpeza ultrassônica: processo que consiste na geração de bolhas microscópicas quando do contato da água com a frequência ultrassônica. A água enzimatizada e aquecida potencializa a ação cavitacional da vibração ultrassônica e favorece o desprendimento das sujidades aderidas à superfície dos materiais. 
****Equipamento que opera através do jato de ar quente que, por ação termomecânica, elimina líquidos das superfícies dos materiais.
    
Fonte : Waldomiro Peixoto - Consultor Técnico Woson

Publicado em 07/11/2023.