Seu material esterilizado realmente está estéril? Artigo de Waldomiro Peixoto

Você, sua equipe e pacientes estão realmente protegidos contra contaminação ao utilizar o seu material esterilizado?

Seu material esterilizado realmente está estéril? Artigo de Waldomiro Peixoto

A esterilização de um material é um processo com vários passos, cada um destes execu-tado com rigor para atingir o fim almejado: ficar estéril e protegido para manter a esterilidade. Por desdobramento, proteger o paciente e o profissional durante a prática odontológica.

O protocolo de esterilização nas Centrais de Materiais e Esterilização (CME) prevê uma sequência de procedimentos para atingir o objetivo acima, com a finalidade de ser utilizado em procedimentos cirúrgicos, principalmente os críticos onde o risco de contaminação costuma estar mais presente.

O primeiro procedimento protocolar recomendado é a limpeza imediata ao uso quando os fluidos orgânicos ainda se encontram mais fácil de remover. Depois vem a limpeza ou lavagem ultrassônica que remove, através do processo de cavitação, as sujidades dos pontos onde a lavagem manual-mecânica não alcança.

Completadas as duas modalidades de limpeza ou lavagem, vem o enxágue preferencialmente feito com água filtrada ou purificada, seguido da secagem que deve ser feita com jatos fortes de ar comprimido oriundos de compressor isento de óleo ou por secadora automática com ar quente apropriada para tal fim. Depois disso, a inspeção visual, com lupa de aumento associada a uma boa iluminária, para evitar que algum resíduo de sujidade – orgânica ou não – seja embalada com o material a ser levado à autoclave para esterilização. “Material com sujidade é material não autoclavável”.

A embala-gem é outro ponto que requer cuidados como papel grau cirúrgico de qualidade aprovada e validada pela ANVISA, a colocação correta do material dentro do envelope, a selagem de boa qualidade para que a solda não descole ao ser submetida à ação do vapor saturado e pressão, depois à ação da manipulação, até que o processo de esterilização se complete.

Acondicionamento do material embalado nas bandejas é outro ponto crítico durante o processo acima, lembrando sempre que precisa de haver espaço suficiente entre e no entorno dos envelopes para circulação do agente esterilizante (vapor saturado) e depois, facilidade de retirar umidade quando da secagem. Muito material nas bandejas impede que seja esterilizado e principalmente secado. Nunca é demais lembrar que “pacote úmido é pacote recontaminável”. O acondicionamento em autoclaves gravitacionais e o acondicionamento em autoclaves a vácuo exigem cuidados diferentes, porque têm recursos técnicos distintos com resultados também distintos. Já tratamos destas diferenças em números anteriores nessa Revista.

Outro aspecto a considerar é se o material se destina a uso imediato (abrir a autoclave e usar) ou a armazenar para uso posterior. No segundo caso, os cuidados com secagem absoluta são redobrados inclusive com a armazenagem para proteção da esterilidade do material processado.

Assim, chegamos ao ponto crucial: um material submetido a um processo de esterilização pode ser considerado ‘material esterilizado’ porque passou pelo processo de autoclavagem, mas isso não significa necessariamente que esteja ‘de fato estéril’. E mais: mesmo estéril, outra coisa é a ‘manutenção de sua esterilidade’. Segundo a ANVISA, tecnicamente um material somente está estéril quando destruídas e eliminadas todas as formas viáveis de microrganismos. Se restar uma delas, haverá cultura do microrganismo que não morreu e a esterilidade do material estará comprometida.

Elementos que interferem no processo de esterilização e que podem impedir a esterilização: 1) qualidade da autoclave, 2) manutenção inadequada da autoclave, 3) má execução de qualquer uma das fases do protocolo operacional padrão, 4) aplicação inadequada dos 4 fundamentos do processo de esterilização (tempo, temperatura, pressão e qualidade do vapor saturado), 5) má qualidade da água destilada, 6) não retirada de bolhas de ar antes da fase de esterilização (“Onde há bolhas de ar não há esterilização.”), 7) entrada de ar externo contaminado durante o processo de secagem, enquanto os pacotes estão úmidos e vulneráveis, 8) secagem de má qualidade (pacotes com resíduo de umidade), 9) esterilizar cargas de alto desafio (como porosos e acanulados, por exemplo) em autoclaves sem vácuo, 10) ambiente inadequado de armazenagem de material etc. Estes são alguns dos principais eventos. Enumerá-los todos seria cansativo para o leitor.

Para encerrar ficam as perguntas: você realiza corretamente todas as fases do protocolo operacional padrão recomendado pela ANVISA? O material que você esteriliza é apenas sólido de superfície contínua ou você esteriliza também material de grande desafio como campo, têxtil, poroso, acanulado, oco, instrumentos rotativos com dutos, rolamentos e engrenagens? Sua autoclave é gravitacional ou é a vácuo? Os cuidados adotados por você, depois do processo de esterilização, são adequados para preservação da esterilidade do material processado até o momento do uso? Você está absolutamente seguro de que seu paciente está protegido contra contaminação ao utilizar o seu material esterilizado? E você e sua equipe de trabalho, estão protegidos? Ficam as provocações para refletirmos a respeito.

Voltaremos ao tema! Que 2024 seja rico de expectativas e de esperança. E que, juntos, continuemos trabalhando para uma odontologia mais segura, com mais qualidade de vida e bem-estar para todos. Que venham os desafios, juntos somos mais. Estamos prontos!
 

Waldomiro Peixoto – consultor técnico da Woson. Outros artigos no blog.


Publicado em 26/01/2024.

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