Por que uma autoclave gravitacional não passa no teste-desafio Bowie-Dick?

Artigo de Waldomiro Peixoto - Consultor Técnico Woson

Por que uma autoclave gravitacional não passa no teste-desafio Bowie-Dick?

Vimos em artigo anterior que o teste-desafio do tipo B-D objetiva avaliar a remoção adequada ou inadequada do ar, fugas ou não de ar, má ou boa penetração de vapor e de gases não-condensáveis da câmara interna de uma autoclave. Também, que seu objetivo é evitar que ocorram eventos adversos e danosos comprometedores da esterilidade do material esterilizado. Pois, no final das contas, quem investe em uma autoclave em tese quer segurança e proteção à sua equipe de trabalho e a seus pacientes.

Então, por que uma autoclave gravitacional é reprovada no desafio teste B-D? Porque não reúne os recursos técnicos indispensáveis para que o agente esterilizante (vapor saturado) penetre nas camadas do Bowie-Dick até atingir a folha-teste, com indicador termoquímico tipo 2, posicionada dentro do pacote, entre as multicamadas de papel e provoque a “viragem” (mudança uniforme de cor, de acordo com o fabricante) do teste. E o que isso comprova? Que o material autoclavado tem grande chance, ao final do processo de esterilização, de sair “não estéril”. 


Por que isso pode acontecer? 

Porque o arrasto de ar (termo também conhecido por “desaeração”) nas autoclaves gravitacionais ocorre – quando ocorre! – por despressurização da pressão positiva, insuficiente e incapaz de eliminar o ar (ou bolhas de ar) contidas dentro das camadas de papel do teste B-D, motivo pelo qual não consegue agir e provocar a “viragem” uniforme (ver imagem ao lado e acima) como ocorre com autoclaves que atuam com bomba de vácuo.

O ar é um isolante térmico altamente eficiente e lembremos do princípio: “Ar não se mistura com vapor saturado e onde houver bolhas de ar o agente esterilizante não atua.”. Se o ar impede que o vapor saturado alcance a folha-teste alojada entre as camadas de papel do teste-desafio B-D, isso é indicativo de que o “miolo” do pacote envelopado, onde restarão bolhas de ar, muito provavelmente da mesma forma não será atingido e, por consequência, não ocorrerá esterilização satisfatória e segura. Micro-organismos viáveis continuarão vivos dentro da bolha de ar e a não esterilidade do material será um fato.

Cargas de alto desafio como mangueiras, dutos de peças de mão, acanulados, porosos, articulados e similares, cujas bolhas de ar – que obstruem a entrada do agente esterilizante – só se conseguem remover por meio de vácuo (pressão negativa), recurso que as autoclaves gravitacionais não possuem!

Por decorrência, um teste B-D submetido a uma autoclave gravitacional também não consegue qualificar fuga de ar, penetração de vapor e determinar, com segurança, se os produtos considerados esterilizados estão ou não, de“fato, estéreis. Isso só é possível com autoclaves que operem com bomba de vácuo e injeção de vapor, ou seja, autoclaves a vácuo Classe B.

E o teste B-D, ao simular as dificuldades e os desafios de tais cargas, comprova que nem tudo que é “esterilizado” em autoclaves gravitacionais fica estéril. Este é o motivo pelo qual a norma diz que as gravitacionais são recomendadas – com restrição – apenas para material sólido, de preferência os desembalados para uso imediato.

Em tempo: sugerimos a leitura da ABNT-NBR 11817:23.
 

FONTE: Waldomiro Peixoto
Revista APCD-Ribeirão
Publicada na Edição Julho 202


Publicado em 27/07/2023.

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