O uso da ultrassonografiana odontologia, segundo especialista
"Hoje, posso dizer que conheço um pouco deste imenso e desafiador oceano da Ultrassonografia e suas aplicações na Odontologia", diz Dr. Rodrigo Villela
A história da ultrassonografia (US) nos remete ao século XVIII, quando as primeiras observações sobre a orientação de morcegos foram feitas pelo padre e naturalista Lázaro Spallanzani, que notou que esses animais conseguiam se orientar em voo mesmo sem visão, usando sons. Em 1877, Lord Rayleigh desenvolveu a Teoria do Som, marcando o início da Ciência da Acústica (dos Sons). Em 1880, os irmãos Pierre e Jacques Curie descobriram o Efeito Piezoelétrico, propriedade que certos materiais (cristais) têm de converter uma forma de energia em outra, como a energia mecânica em elétrica e vice-versa. Contudo, os maiores avanços para o desenvolvimento da ultrassonografia ocorreram durante e após as 1ª e 2ª Guerras Mundiais, com pesquisas no uso militar.
Na medicina, as pesquisas para o uso da ultrassonografia iniciaram na década de 1950 para estudos do cérebro e migrando rapidamente para a área de obstetrícia. Nos anos 1970, equipamentos específicos aprimoraram os exames e, no final do século, novas tecnologias avançadas como Doppler e Elastografia ampliaram o uso da ultrassonografia para análises anatômicas e fisiológicas. Atualmente, o uso dos exames ultrassonográficos na medicina é bastante consolidado, sendo considerado padrão-ouro em diversas especialidades médicas.
Na Odontologia, o início das pesquisas com a ultrassonografia data do final dos anos 1980, com objetivo de observar as glândulas salivares maiores. Na década de 1990, as pesquisas se expandiram para aplicação em tumores de língua e, nos anos 2000, para outras áreas, como as disfunções temporomandibulares (DTM). Contudo, somente a partir de 2020 a ultrassonografia reapareceu como exame complementar na Odontologia, no Brasil, em grande feito devido ao entusiasmo de colegas como a Profas. Tânia Rocha e Dra. Micena Miranda, pioneiras nessa nova onda de disseminação da ultrassonografia na Odontologia. Somam-se a este feito o momento e a aceitação de mercado dos procedimentos cosmiátricos faciais, com reconhecimento da especialidade de Harmonização Orofacial.
A possibilidade da visualização dos tecidos moles faciais e de sua identificação trouxe à luz os exames de Ultrassonografia na Odontologia, afirma Dr. Rodrigo Dias Villela. Segundo ele, os exames de ultrassonografia orofaciais (USO) permitem identificação e medições de planos teciduais, avaliação volumétrica e anatômica, mapeamentos vasculares, detecção de materiais exógenos e lesões subclínicas, auxiliando no diagnóstico, no planejamento e no acompanhamento de procedimentos odontológicos, além da possibilidade do auxílio guiado por ultrassom.
Natural de Belém/PA, Rodrigo Dias Villela é Ribeirão Pretano de coração e um cirurgião-dentista que reúne uma trajetória profissional diversificada, marcada com a prática odontológica, o gosto pela inovação tecnológica e a vivência na gestão de empresas.
Com especializações em Radiologia Odontológica, Odontologia Legal e Gestão de Empresas e, mais recentemente, como aluno de mestrado no programa de Biologia Oral da FORP/USP, há quatro anos se dedica aos estudos, exames e relatórios de diagnósticos por imagens, sobremaneira na Ultrassonografia Orofacial, com capacitação e atualização especializadas.
“Hoje, posso dizer que conheço um pouco deste imenso e desafiador oceano da Ultrassonografia e suas aplicações na Odontologia. Além dos estudos e exames, tenho ministrado palestras e aulas nos cursos de especialização (Radiologia Odontológica e HOF) e mentorias individuais ou em grupos com colegas e profissionais que desejam conhecer e adentrar aos exames de USO”, pontua Villela.
Dr. Rodrigo Villela responde, a seguir, os questionamentos da jornalista Dalva Maria.
Como são obtidas as imagens de Ultrassonografia e como se formam?
Villela: As imagens de ultrassonografia são obtidas a partir de ondas sonoras de alta frequência que, ao interagirem com diferentes tipos de tecidos, refletem “ecos” que são processados e apresentados, em tons de cinza, em monitores. Como padrão, em modo de exame Brigthness (B), as imagens são um corte bidimensionais de um plano tomográfico. A sonda (o transdutor) emite ondas ultrassônicas que, ao atravessarem os tecidos moles da face e, conforme sua impedância, são refletidas nas interfaces teciduais, gerando as imagens dinâmicas das estruturas escaneadas e em tempo real.
Quais as principais indicações da ultrassonografia na odontologia?
O estudo da ultrassonografia e suas aplicações na Odontologia têm sido pesquisados ao redor do mundo. Seu uso como exame complementar de diagnóstico tem trabalhos científico em vários países, a exemplo do Japão, Itália, Holanda, China, Turquia, USA e outros que descrevem as possibilidades do uso da US na Odontologia. Dentre os estudos mais relevantes estão os exames na Avaliação de glândulas salivares maiores; auxílio no Diagnóstico da Doença de Sjögren Primária; avaliação de massas tumorais orofaciais; Distúrbios na articulação temporomandibular (DTM), etc.
No Brasil, o uso da Ultrassonografia tem se alicerçado, neste momento, em exames complementares de auxílio no planejamento, realização e acompanhamento dos procedimentos de harmonização orofacial. A possibilidade de observar os planos teciduais, a existência previa de produtos cosmiátricos, estruturas anatômicas de risco e eventuais patologias subclínicas, traz aos profissionais da especialidade de HOF maior segurança técnica na execução dos procedimentos e documentação odontolegal em prontuário.
“Entretanto, não penso que ficará por aí. A literatura tem mostrado um crescente interesse nos estudos da USO nos últimos dez anos. Recentemente ingressei no programa de mestrado do departamento de Biologia Oral da FORP/USP, onde, sob a orientação da Profa. Dra. Simone C. H. Regalo, em parceria com a Dra. Ana Carolina F. Motta, professora da Disciplina de Estomatologia FORP/USP, tenho recebido todo o suporte no aprofundamento dos estudos e da prática clínica com os exames de USO”.
Clínica Diagnóstico FORP/USP
Como o uso da ultrassonografia orofacial contribui para a precisão do diagnóstico?
Indicados para tecidos moles, os exames de ultrassonografia orofacial são um exame fisio-imaginológico. Além das imagens, que permitem a avaliação morfológica e seus aspectos anatomopatológicos, com o recurso do modo Doppler, pode-se observar a hemodinâmica da região escaneada, tudo em detalhes e em tempo real. É um exame de alta sensibilidade na diferenciação de estruturas teciduais.
Glândula Submandibular
Outras características a ressalvar dos exames são: não ionizantes, não invasivos, indolores e os equipamentos possuem recursos que possibilitam ajuste de imagens, mensurações e indicadores fisiológicos. Por fim, os exames possuem alta fidedignidade e são em tempo real, características valiosas no auxílio a procedimentos guiados, em que é possível acompanhar com precisão o movimento e a localização dos instrumentos.
De que forma os cirurgiões-dentistas podem acessar essa tecnologia? Eles devem terceirizar, adquirir um aparelho ou obter formação específica para interpretar os resultados?
O universo da ultrassonografia aplicada à área da saúde é encantador. Seu embasamento teórico, suas aplicações clínicas e seu potencial presente e no olhar para o futuro saltam aos olhos. Entretanto, seu aprendizado e execução prática são bastante desafiadores, exigindo dedicação nos estudos e prática constante.
Para os cirurgiões-dentistas as opções para integrar a ultrassonografia à sua prática clínica poderão ser, em primeira alternativa, a solicitação dos exames a profissionais capacitados ou clínicas de imagem especializadas. Já há cirurgiões-dentistas capacitados em diversos estados e grandes cidades no Brasil.
A segunda opção seria a aquisição de um aparelho de ultrassonografia para clínicas ou consultórios e realização dos exames intramuros, para uso próprio. Ressalvo que, independentemente das opções, a capacitação em ultrassonografia orofacial é condição para o entendimento dos exames. E somente imersões e cursos teórico-práticos permitirão ao profissional operar o equipamento e interpretar as imagens com precisão necessária para os diagnósticos e segurança nos atendimentos.
Qual é o papel da ultrassonografia na harmonização orofacial e como ela contribui para os tratamentos estéticos?
Comparando os exames de imagem auxiliares de diagnóstico da rotina da Odontologia, gosto de pensar que a ultrassonografia orofacial (USO) está para a harmonização orofacial (HOF) assim como a tomografia computadorizada (TCFC) está para a implantodontia (IMP). Ainda que bidimensionais, como padrão, os exames possibilitam o diagnóstico de estruturas anatomopatológicas, mapeamento de possíveis áreas riscos, mensurações lineares e volumétricas, contribuindo para um melhor planejamento e segurança técnica dos procedimentos harmonizadores, além da documentação odontolegal.
Material Exógeno (Ácido Hialurônico)
Ainda há a possibilidade de avaliações da fisiologia hemodinâmica locoregional e o auxílio guiado em tempo real, dois recursos importantes nas avaliações subclínicas e no auxílio de procedimentos em áreas de risco e nos casos de eventuais intercorrências pós-procedimentos.
Existe algo mais que gostaria de compartilhar sobre o futuro da ultrassonografia na Odontologia?
A ultrassonografia é uma realidade na área da saúde. A medicina soube explorá-la, desenvolvendo aplicações que contribuíram para a qualidade e segurança dos atendimentos médicos. Na Odontologia, com todos seus entes – profissionais(mercado), indústria(equipamentos) e academia(ciência) – o caminho tem que ser o mesmo para o desenvolvimento da ultrassonografia orofacial. Um exame que contribui com a qualidade diagnóstica, planejamento de tratamento, mitigação de riscos em intervenções, auxílio em procedimentos em tempo real, além de ser documento odontolegal, confortável ao paciente e de risco biológico “zero”. Esse é o futuro: A Ultrassonografia Orofacial.
Ultrassonografia Orofacial
MAIS INFORMAÇÕES:
Site: www.vekz.com.br
Insta: @vekz_odonto
Ld In: rodrigo dias villela
rdvcontato@outlook.com
Publicado em 23/12/2024.
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