Ficam estéreis de fato produtos submetidos a um ciclo de autoclave?

De acordo com Waldomiro Peixoto, consultor técnico da Woson, explicações complementares necessárias...

Ficam estéreis de fato produtos submetidos a um ciclo de autoclave?

Acompanhemos uma conversa entre dois profissionais de saúde. O primeiro pergunta:

- Fica de fato estéril todo material autoclavável submetido ao ciclo de esterilização em autoclaves validadas e certificadas, depois de corretamente limpo, seco, embalado e acondicionado dentro da câmara de inox, na temperatura e pressão corretas, respeitando o protocolo previsto pelas normas técnicas oficiais?

- Óbvio que sim, responde o segundo! Uma vez que todos os passos foram seguidos à risca, o óbvio é que o material saia completamente estéril da autoclave!

-Então você está certo de que um material esterilizado realmente fica estéril? Está absolutamente seguro disso? E, também, já refletiu sobre a diferença entre esterilizado e esterilidade?

- Sim, estou seguro disso. Se foi esterilizado, para mim ficou estéril, e estéril e esterilizado, neste caso, são sinônimos perfeitos, reitera o segundo.

O primeiro olha no fundo dos olhos do segundo e lança a dúvida: “Será que sim? Tem certeza!?”

-Sim, asseguro que sim.

- Imaginemos este cenário, continua o primeiro:  mangueiras de sucção, tubos cirúrgicos com luz fina, cânulas finas, canetas de alta rotação e pontas cirúrgicas utilizadas em uma cirurgia normalmente com bastante fluido orgânico, além de brocas cirúrgicas e pontas diamantadas... para esterilizar. Todo este material é limpo manualmente, alguns deles ultrassonicamente. São enxaguados com água filtrada e enxutos fora e dentro com ar comprimido isento de impurezas. É feita a inspeção com lupa de aumento e constatada que a limpeza está perfeita, depois do que são embalados corretamente com papel grau cirúrgico e bem selados, acondicionados como se deve na bandeja da autoclave e submetidos à esterilização na temperatura e pressão corretas, durante o tempo preconizado pelas normas técnicas oficiais. Cenário perfeito do ponto de vista técnico, correto?

- Sim, tudo de acordo com as boas práticas de esterilização.

- Lembremos ainda, prossegue o primeiro, que estes produtos, quando introduzidos nas bandejas, levam para dentro da autoclave 100% do ar ambiente, ou seja, a mesma pressão atmosférica no ambiente externo e dentro da câmara de inox, antes de a autoclave entrar em funcionamento e começar a aquecer. Se, durante o processo de autoclavagem, este ar naturalmente dentro da câmara de inox e dentro do lúmen dos tubos não for removido, bolhas de ar se formarão dentro deles. Sabe-se que “onde restarem bolhas de ar não haverá esterilização”, por ser o ar um eficiente termo isolante e que, exatamente por isso, protegerá os microrganismos que ali, dentro da bolha de ar, permanecem.

O outro profissional de saúde, que tinha tanta certeza sobre a esterilidade do material submetido ao processo de esterilização, já não tinha tanta certeza assim. Ele começou a entender que só haveria esterilização absoluta se o agente esterilizante (vapor saturado) pudesse atuar em todos os pontos externos e internos do material envelopado e lacrado, e as bolhas de ar não removidas impediriam que isso acontecesse... No caso de haver bolhas de ar...
 

    Explicações complementares necessárias...

... para entender o que de fato poderá acontecer com o material submetido ao processo de esterilização.

1.    Comumente, em ambientes de tratamento da saúde há dois tipos de autoclaves: as gravitacionais Classe N e as a vácuo Classe B. As gravitacionais operam apenas com pressão positiva e vapor saturado (agente esterilizante*) produzido dentro da câmara de inox por resistência imersa em água destilada. As a vácuo operam com pressão positiva e negativa (bomba de vácuo) e vapor saturado produzido fora da câmara de inox por gerador de vapor que é injetado dentro da câmara (e dentro dos pacotes lacrados), portanto sua penetração é forçada quando a injeção se encontra com o vácuo.

2.    Quando o material a esterilizar é submetido a um processo de esterilização em gravitacionais, a pressão positiva entra pelos extremos do lúmen do tubo (mangueira, duto, acanulado, oco...), criando naturalmente bolha de ar que não consegue sair por nenhum dos extremos porque a pressão não permite. Onde tem bolha de ar não entra vapor e a esterilização não acontece, porque ali os microrganismos estão protegidos e não morrerão. Neste caso, se diz que “o material foi esterilizado porque se submeteu ao processo de destruição microbiana, mas, como não morreram todos os micro organismos, certamente não ficou estéril!”.

3.    Já quando o material a esterilizar é submetido autoclaves a vácuo, o ar dentro dos tubos é retirado pela pressão negativa gerada pela bomba de vácuo e o vapor saturado entra no lúmen em seu lugar e atua dentro dele como agente esterilizante.  Neste caso, se diz que “o material foi esterilizado – e ficou estéril – porque se submeteu ao processo de esterilização de forma correta, e o agente esterilizante (vapor saturado) substituiu a bolha de ar, atuou sobre todas as superfícies – internas e externas – do material, deixando-as isentas de microrganismos viáveis!”.

4.    É bom frisar que um material esterilizado e estéril, para ter razoável grau de biossegurança, precisa também estar limpo, pois quaisquer substâncias orgânicas, mesmo estéreis podem se tornar corpos estranhos, com possíveis efeitos colaterais danosos. Lembremos que “material não-limpo é material não-esterilizável”.
 

A Importância do Protocolo Operacional Padrão (POP) ditado pela ANVISA

É fundamental então que todas as fases de um protocolo biosseguro sejam igualmente bem executadas, da limpeza do instrumental à manutenção da esterilidade do material depois da secagem dos pacotes e durante sua armazenagem e manipulação até o reuso. A esterilização em autoclaves, por vapor úmido ou saturado, é apenas uma das fases do POP, e todas são igualmente importantes para que não seja rompida a corrente de proteção. Vale lembrar a sábia lição da Professora Dra. Izabel Yoko Ito e Professor Dr. Sérgio Lima de que “a corrente nunca é mais forte do que seu elo mais fraco”.  

Frisemos então que estéril e esterilizado são conceitos diferentes. “Estéril” é um material isento de microrganismos viáveis. “Esterilizado” é um material que passou por um processo de destruição microbiana. Soma-se a isso que, além de estéril, um material tem usabilidade clínica crítica se estiver “limpo”.


* O vapor saturado é um agente esterilizante altamente eficiente, de alto poder letal contra microrganismos, quando conjugado com a pressão e a temperatura corretas durante um certo tempo determinado pelas normas técnicas.


Publicado em 19/09/2023.

APCD Ribeirão Preto
APCD Ribeirão Preto
APCD Ribeirão Preto

(16) 3630-0711

Rua Casemiro de Abreu, 660 - Ribeirão Preto (SP)
Ops... Preencha corretamente o formulário.
Obrigado! Seu formulário de inscrição foi encaminhado com sucesso.